Brasileiro que infartou em voo para a Irlanda vive drama para voltar ao Brasil e fazer transplante
10/01/2025
Diego Mendes Honorato, de 38 anos, é de Bebedouro (SP) e vive em Dublin. Ele está internado em hospital universitário na Holanda e não tem condições de custear UTI aérea orçada em cerca de R$ 1 milhão. Brasileiro vive drama na Holanda após infartar durante voo
Um brasileiro vive um drama para retornar ao país após sofrer um infarto durante um voo para Dublin, na Irlanda, onde mora com a esposa. O segurança Diego Mendes Honorato, de 38 anos, viajava do interior de São Paulo, onde visitou a família, no dia 6 de dezembro, quando passou mal e precisou ser hospitalizado em Amsterdam, na Holanda, onde o avião fez escala.
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Nascido em Ribeirão Preto (SP) e com família em Bebedouro (SP), Diego foi diagnosticado com insuficiência cardíaca pelos médicos holandeses com indicação para um transplante. Ele está internado em um hospital no país e sobrevive com ajuda de aparelhos, sem a possibilidade de deixar a UTI.
Para retornar ao Brasil, é necessária uma UTI aérea com equipe médica, o que pode custar até R$ 1 milhão, dinheiro que a família não tem disponível. O Itamaraty também não possui esse tipo de aeronave e não custeia este tipo de transporte.
Esposa de Diego, a garçonete Angélica Honorato recorreu ao Itamaraty, mas foi informada de que não há recursos disponíveis para custear esse tipo de viagem.
Em nota enviada ao g1, o Itamaraty informou que "não há previsão legal para o custeio de despesas médico-hospitalares com recursos públicos".
"Ele está muito abalado. Imagina que está passando por toda a situação sem saber se vai conseguir viver ou morrer. É uma situação extremamente complicada e crítica. Após quase um mês, 22 ou 23 dias no hospital, o médico olhou para ele e falou assim: 'Você já saiu daqui do hospital?"' A gente falou 'não'. Então o médico pegou uma cadeira de rodas deu uma volta no hospital nós três, meu marido eu e o médico para ele respirar ar puro. Ele ficou feliz, mas sentiu aquilo como uma sensação de desespero por não saber quando ele vai poder fazer aquilo de verdade e andar com as pernas dele", diz.
O casal optou por não contratar um seguro de saúde na Irlanda porque o país conta com hospitais públicos e a contratação do serviço não é obrigatória, apesar de recomendada. Desde que se mudaram do Brasil há três anos, Diego e Angélica faziam exames de rotina quando viajavam ao interior de SP.
Como acabaram ficando na Holanda por causa do imprevisto médico, o casal também não tem seguro no país, o que limita o atendimento. Até o momento, Diego está sendo atendido no hospital universitário Amsterdam UMC, gratuitamente.
Desconforto começou no Brasil
Segundo a garçonete, ainda no Brasil, no início de novembro, o casal percebeu que havia algo errado quando Diego começou a sentir incômodos, principalmente na região da barriga, para dormir. Dias depois, ao fazer uma caminhada em um morro, ele passou mal.
Diego fez exames médicos que constataram um problema cardíaco. No entanto, segundo Angélica, ele foi liberado para retornar à Irlanda. Eles pretendiam ajustar as coisas no país, onde moram juntos há três anos, e retornar ao Brasil para finalizar o tratamento.
“Já estávamos com a volta marcada para Dublin no dia 5 de dezembro. Fizemos todos os acompanhamentos, todos os exames. O médico disse: ‘Você continua tomando os remédios durante a viagem, tem que movimentar os pés e, quando puder, dar uma caminhada no avião, e vai ser tudo bem’. Então nós fomos. Compramos todos os medicamentos para cerca de quatro meses”, diz Angélica.
Ela relata que o marido não tinha histórico cardíaco e que os médicos acreditam que o problema tem origem genética, agravado por uso controlado de anabolizantes no passado. Ainda assim, a velocidade da progressão da condição cardíaca intrigou os médicos, segundo a família.
Diego precisará de avião com UTI móvel para retornar ao Brasil
Reprodução/Acervo Pessoal
Infarto durante a viagem
No momento da viagem, Angélica conta que o segurança estava bem, caminhou tranquilamente, comeu, carregou as bagagens. Já no avião, eles dormiram, jantaram e tomaram café. A situação mudou no final do trajeto, quando Diego se levantou para ir ao banheiro.
“Desde que ele levantou, já começou a sentir um desconforto no peito, um suor frio, uma dor no ombro direito. Nós nos sentamos de novo, e ele falou para mim: ‘Eu acho que estou infartando, não estou me sentindo bem’. Na mesma hora eu já comecei a tremer por dentro, porque ele estava ali, consciente, conversando comigo, mas eu não sabia o que poderia acontecer”.
Diego foi atendido por uma equipe médica ainda no avião. Após a aterrisagem, a esposa o levou de cadeira de rodas até o setor de primeiros socorros do aeroporto de Amsterdam. Os exames realizados ainda no local constaram a necessidade de encaminhamento para o hospital, onde estão desde então.
Internação e procedimento de emergência
Já no hospital, Diego passou por um cateterismo para desobstrução dos coágulos nas veias do coração. No entanto, voltou a passar mal poucas horas depois, com vômitos e enjoos e a intensificação da dor no ombro. Angélica conta que a pressão arterial do companheiro chegou a 6 por 3, considerada bem baixa.
“Foi quando um médico veio conversar com a gente e disse: ‘Olha, precisamos fazer um procedimento em você. Nesse procedimento, vamos conseguir mandar a medicação direto para o coração, mas, se não conseguirmos, você pode morrer’. Na hora que ele falou isso, já entrei em desespero. É um sentimento que você não sabe explicar, não sabe o que fazer ou falar naquela hora”, conta.
A garçonete relata que não se preocupou com os custos naquele momento e que depois viria a descobrir que o hospital arcaria com o tratamento.
O procedimento foi bem-sucedido e é o que está mantendo Diego vivo. Ela conta que, naquele momento, teve esperança de retornar à Irlanda, porém, passaram-se dias e ele não foi liberado. Eles foram informados pelos médicos que seria necessária uma transferência para um hospital da mesma rede, especializado.
Segundo Angélica, os médicos holandeses deram duas alternativas para o caso, sendo o transplante a mais segura. A outra seria a implementação de uma bomba que auxilia a pulsação do coração, que seria colocada dos dois lados. No entanto, o procedimento é complexo e não pode ser realizado na Holanda.
“Eles mencionaram que talvez seja possível na Alemanha ou em outro país, mas também não têm certeza. Por fim, disseram que a única solução viável seria o transplante, mas como ele não tem seguro médico, não podem oferecer esse tratamento”.
Casal vive junto na Irlanda há três anos e se casaram há pouco mais de um ano
Reprodução/Acervo Pessoal
Transporte para o Brasil
Desde que foi internado, o segurança perdeu 20 kg de massa muscular e óssea. Mesmo ainda conseguindo se levantar, sente fraquezas e dificuldades de locomoção devido à perda de força. A medicação, introduzida diretamente no coração, é necessária para manter o quadro estável.
Segundo Angélica, todas as vezes que os médicos tentavam diminuir ou retirar a medicação, Diego passava mal novamente e ficava com o quadro instável. A situação passou a ser desesperadora para a família, que se viu sem meios para retornar tanto para a Irlanda quanto para o Brasil.
Angélica conta que os médicos holandeses chegaram a entrar em contato com o Hospital das Clínicas de São Paulo (HC-SP) para verificar o suporte disponível para o caso e foi confirmado que podem oferecer suporte no Instituto do Coração (Incor).
Levá-lo para São Paulo passou a ser o objetivo principal da família, que agora busca apoio para realizar o transporte. Sem ajuda do governo brasileiro, Angélica abriu uma vaquinha virtual para tentar arrecadar recursos e ajudar o companheiro.
“Estamos enfrentando uma situação desesperadora. Não temos suporte local porque não possuímos seguro de saúde adequado, e o transporte para o Brasil é extremamente caro. Atualmente, ele depende da medicação para se manter vivo, e o hospital na Irlanda está em contato com os hospitais de São Paulo para organizar o transporte aéreo, que só será liberado quando garantirem a segurança”, diz.
Amsterdam UMC, hospital onde brasileiro está internado
Reprodução/Amsterdam UMC
O que diz o Itamaraty
Em nota, o Itamaraty disse que o Ministério das Relações Exteriores, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Amsterdam, está à disposição para prestar a assistência consular ao brasileiro, mas que não pode custear despesas médicas.
"Dentre as atividades de assistência prestada pela rede consular brasileira, incluem-se emissão emergencial de documentos de viagem, a entrega pontual de recursos para pequenos auxílios e orientações relativas às possibilidades de repatriação, entre outras. Não há previsão legal para o custeio de despesas médico-hospitalares com recursos públicos."
O Itamaraty também informou que em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, o Ministério das Relações Exteriores não fornece informações sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros.
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