Óleo extraído de árvore típica de Tepequém tem potencial para combater mosquito da malária, apontam pesquisadores
28/04/2025
(Foto: Reprodução) Estudo publicado em revista internacional mostra que extrato da Trattinnickia burserifolia elimina larvas do mosquito em até 48 horas. Pesquisadores destacam potencial para novos métodos de controle da doença na Amazônia. Pesquisa encontra maneiras de inibir malária com óleo de árvore em Tepequém
Naamã Mourão/Rede Amazônica e Arquivo Pessoal
Um grupo de pesquisadores de universidades da Amazônia e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) identificaram no óleo essencial extraído da Trattinnickia burserifolia — espécie típica de Tepequém, região de serra que é o principal ponto turístico de Roraima — um alto poder larvicida contra o Anopheles, mosquito transmissor da malária.
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A pesquisa integra a tese da doutoranda em biotecnologia pela Universidade Federal de Rondônia (UFRO) Gisele de Oliveira e contou com apoio de instituições como a Universidade Federal de Roraima (UFRR), Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) do Amazonas e a Fiocruz Rondônia.
O estudo foi publicado recentemente na revista internacional Pharmaceuticals, da editora suíça MDPI, uma das mais conceituadas do meio científico, com classificação Qualis A1 — o mais alto nível de avaliação acadêmica no Brasil. Antes de ser publicado, o estudo passou por um extenso processo de validação científica.
"Publicar o resultado de uma pesquisa exige rigor: são muitos revisores, exigências e correções antes da aceitação", afirmou a doutoranda Gisele.
Árvore cujo o óleo pode ajudar no combate à malária
Arquivo Pessoal
⛰️ A Serra do Tepequém, localizada no município de Amajarí, ao Norte de Roraima, é considerada o destino mais procurado pelos turistas locais e de outros lugares do Brasil, segundo o Departamento de Turismo do Estado (Detur).
🧗♀️ A Serra do Tepequém fica distante cerca de 210 km de Boa Vista. O local é um dos mais visitados por apresentar atrações como cachoeiras, um platô que chega a quase 1.022 m de altura e pelo clima ameno durante a noite, proporcionado pelas serras.
🌳 Ajuda para inibir a malária na Amazônia
Lascas de árvore típica de Tepequém
Naamã Mourão/Rede Amazônica
A pesquisa começou a partir da coleta de amostras da Trattinnickia burserifolia, planta pouco estudada da flora amazônica, conhecida entre populações locais pelas propriedades aromáticas.
As cascas do caule são retiradas para garantir a recuperação natural da árvore e enviadas a laboratórios especializados.
O óleo essencial é extraído por meio de um processo de hidrodestilação — técnica que utiliza a ação do vapor para liberar compostos voláteis presentes nas plantas. Em seguida, os pesquisadores realizaram a caracterização química do óleo, identificando cerca de 40 substâncias distintas.
Três compostos, em especial, chamaram atenção: limoneno, triciclênio e betapineno.
“Esses três componentes majoritários mostraram forte ação larvicida, mas há indícios de que outros constituintes também contribuam para a eliminação das larvas”, explicou Gisele de Oliveira.
Gisele de Oliveira, doutoranda a frente da pesquisa
Naamã Mourão/Rede Amazônica
Os testes de eficácia foram conduzidos no Laboratório de Malária do Inpa, em Manaus. Amostras de larvas do mosquito Anopheles foram expostas ao óleo essencial, e os resultados foram "surpreendentes".
“As larvas apresentaram lentidão significativa e, em até 48 horas, observamos a morte da maioria delas”, relatou a pesquisadora.
Óleo extraído da natureza em Roraima é aposta de pesquisadores na região Norte
👩🔬 Reconhecimento científico
A escolha da revista Pharmaceuticals se deu não apenas pelo prestígio da publicação, mas também pela linha editorial voltada a novas descobertas farmacológicas e produtos naturais com potencial terapêutico ou biológico.
Pesquisa foi publicada em revista
Naamã Mourão/Rede Amazônica
“Quando você vê que uma pesquisa como essa, que trabalha no óleo essencial de uma planta, que é uma árvore, que você consegue ver que ela tem um potencial biotecnológico, aplicações que podem trazer benefícios à saúde, não só à saúde humana, mas também ao óleo digital, ou seja, dentro do conceito de saúde humana, você vê que essas pesquisas científicas se tornam cada vez mais relevantes para a sociedade”, avalia Andreimar Martins Soares, orientador da pesquisa pela Universidade Federal de Rondônia e Fiocruz Rondônia
Para o professor Antonio Alves, da UFRR, que atuou como coorientador do projeto, a pesquisa reforça a importância de valorizar a biodiversidade amazônica.
“Estamos trabalhando com plantas da nossa região. E [essa descoberta] pode inibir essa questão da malária dentro da Amazônia, no Brasil, e até no mundo”, disse.
🦟 Malária
Os testes de eficácia foram conduzidos no Laboratório de Malária do Inpa, em Manaus
Naamã Mourão/Rede Amazônica
Segundo o Ministério da Saúde, a malária é endêmica nos estados da Amazônia Legal, que concentra quase a totalidade dos casos da doença no Brasil.
O Anopheles darlingi, principal vetor da malária na região, encontra no ambiente amazônico condições ideais para reprodução.
O próximo passo, de acordo com os pesquisadores, é aprofundar a análise da ação dos componentes isolados através da pesquisa com a Trattinnickia burserifolia. Gisele de Oliveira reforça como ponto positivo fundamental a seleção de alternativas dentro da natureza e da biodiversidade.
“É na natureza que está a grande riqueza. Toda variedade que nós precisamos preservar, pois dela podem surgir respostas para muitos desafios do nosso cotidiano”.
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